A longevidade do trabalho artístico e pedagógico a partir da capoeira, da dança-afro e de danças tradicionais do Nordeste foi o que levou o Daruê Malungo a ser estudado na pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular, através da qual este texto foi produzido. Em sua trajetória, o grupo promove um entrecruzamento de atividades artísticas com ações de resistência negra e de educação popular, voltadas para a comunidade de Campina do Barreto. A amplitude artística e social do Daruê Malungo contribuiu para sua consolidação como centro cultural de referência em Pernambuco na década de 90, e para se tornar um Ponto de Cultura em 2008.

A fundação oficial do Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo é datada de 1988, mas antes disso, os seus fundadores Gilson Santana (Mestre Meia Noite), Vilma Carijós e Ubiracy Santana, já desenvolviam trabalho em grupo com capoeira e dança na localidade. As informações contidas no blog do Ponto de Cultura Daruê Malungo relatam que o grupo surgiu em 1984. Segundo a pesquisadora Adriana Gehres (1994), Mestre Meia Noite começa a organizar rodas de capoeira em diversos bairros do Recife no início dos anos oitenta e foi a partir do grupo formado em Água Fria que ele criou o Grupo Malungo de Capoeira Angola.  Posteriormente, o grupo agrega a participação de mulheres e se transforma em um grupo de dança afro-brasileira, o Daruê Malungo.  O nome Daruê Malungo significa “companheiro de luta” (GEHRES, 1994: 89). Em depoimento para Adriana Gehres, Mestre Meia Noite explica que Daruê é o nome de uma dança de Xangô, a dança da força interior, da energia de luta, de luta interior, e que Malungo significa companheiros.

Em 1988 foi inaugurado o Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo “com uma proposta de escolarização que partia do ensino de danças e músicas populares, seus instrumentos de luta e resistência, para alfabetização, aprendizagem e técnicas da escrita, de crianças e adolescentes da Comunidade de Chão de Estrelas” (GEHRES, 1994:112). A construção do espaço teve a participação dos integrantes do grupo na época e de moradores de Chão de Estrelas, bairro onde fica o terreno. E a construção pedagógica do Centro teve a participação de profissionais do Centro Luís Freire e do Movimento Negro Unificado, com a realização de cursos e troca de experiências com os professores do Daruê. (GEHRES, 1994:103-106)

O Daruê Malungo tem como diretor e professor Mestre Meia Noite, e funciona com uma estrutura familiar, onde as irmãs Ubiracy e Ana Paula atuam ensinando e coreografando, e Vilma, a mãe de seus filhos, administra, ensina e também coreografa o grupo de dança. Além deles, ex-alunos do Centro também atuam como professores.  Segundo Meia Noite, em entrevista concedida ao RecorDança (2013), o Centro funciona com aulas de alfabetização, de leitura, de dança e de capoeira de segunda a sexta, e nos sábados funciona como momento para ensaios e conversas. Essa dinâmica ainda é parecida com o que era realizado desde sua fundação.

Em entrevista (2013), Meia Noite conta ainda que existem três grupos de dança funcionando no Centro: o Infantil, o Infanto-juvenil e o Juvenil. O grupo de dança principal é formado praticamente por professores de dentro e fora do Centro. Além desses, existe também o grupo de percussão Maracatu Nação Estrelar.

O repertório do grupo é formado por espetáculos que variam o formato de acordo com as apresentações contratadas, e que em geral são realizados em festivais de dança, eventos escolares e turísticos e datas comemorativas da Consciência Negra. Em 2002, realizou uma temporada no Teatro Armazém com o espetáculo No Jogo da Dança, com direção de Meia Noite, coreografias de Vilma e Ana Paula e direção musical de Lepê Correia. Em 2006, produziu o espetáculo Daruê em Show. Ao longo de sua trajetória, o Daruê também promoveu intercâmbio e participações em espetáculos de grupos e artistas contemporâneos da cidade como o Cais do Corpo, o Grupo experimental, o dinamarquês Peter Dietz e o Grupo Grial.

O Centro Daruê Malungo é uma organização civil sem fins lucrativos e, desde o início, se sustenta com financiamentos de organizações governamentais e não-governamentais, (GEHRES,1994). A partir de 2008, o Daruê foi contemplado pelo programa Ponto de Cultura e recebeu recursos governamentais para manter suas atividades e para se informatizar. Em entrevista ao RecorDança, Meita Noite revelou que atualmente o Centro voltou a se sustentar a partir de doações, como acontecera em outros momentos de sua existência.

O trabalho do Daruê na formação de artistas, tanto na área de dança como em música, é reconhecido nacionalmente. O cantor Chico Science, por exemplo, teve sua primeira banda, chamada Lamento Negro, formada dentro do Centro. E muitos capoeiristas e dançarinos que passaram pelo Daruê hoje atuam como professores ou artistas no Brasil e no exterior.

Na área de educação o Daruê Malungo é objeto de vários estudos sobre Educação Popular,  e foi indicado pela pesquisadora Carmem Lúcia Bandeira “como o grupo que desenvolvia um dos trabalhos mais relevantes no Movimento de Escolas Comunitárias de Pernambuco” (GEHRES, 1994).