A Cia Artefolia tem seu trabalho fundado na metodologia brasílica, do Balé Popular do Recife, pois foi criada em 1993 por integrantes do elenco do Balé Brasílica. Esse forte vínculo com a técnica e poética organizada no Método Brasílica influencia diretamente na proposta cênica do grupo, que tem como diretora Marilia Rameh. A partir do início dos anos 2000, o Artefolia assimila outras referências de danças e dialogando com outras linguagens, culminando em uma mudança estética de suas criações, mas mantendo a inspiração nas danças populares. Essa mudança de trajetória e interesse por outros resultados cênicos para suas criações é o que leva o grupo a ser estudado pela pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular, através da qual este texto foi produzido.

Mesmo com fundação em 1993, a Cia. Artefolia só inicia sua produção de repertório a partir de 1997, com a criação do espetáculo Pernambucando. Até essa primeira montagem, o grupo atuava fazendo apresentações de coreografias em escolas e eventos turísticos, em um processo de amadurecimento e estruturação. Com a criação do espetáculo Pernambucando, o grupo passa a se engajar numa perspectiva de atuação profissional, participando de eventos de dança, a exemplo do Festival de Dança do Recife e do V Festival Internacional de Dança da Amazônia (1998) em Belém- PA, no qual foi premiado.

Em 1999, aprova no Sistema Estadual de Incentivo à Cultura projeto para montagem do espetáculo Bela à Vista – A Descoberta de Cabral (2000), sendo a primeira experiência de financiamento do grupo. Apesar da aprovação, apenas uma pequena parte dos recursos fora captado para realização do espetáculo. O projeto foi elaborado em parceria com Mariangela Valença, que fez a direção artística e coreografia do espetáculo. A montagem foi baseada no texto Bela à Vista – A Descoberta de Cabral escrito por Valdir Oliveira. O espetáculo é exibido no show da Xuxa, gravado no Rio de Janeiro, e apresentado também em São Paulo. E em 2003 recebe vários prêmios no IX Janeiro de Grandes Espetáculos. Ao longo da trajetória, o grupo promoveu diversas ações em parceria com a artista Mariângela Valênça, participando de vídeos e eventos realizados por ela, a exemplo da videoaula “ Frevo – aprenda o passo com Mariângela Valença”.

Ao longo de 20 anos o grupo reúne um repertório de coreografias e espetáculos inspirados em manifestações populares. A coreografia Mutamb (1999) traz referências da dança afro, em uma criação coletiva feita a partir de uma residência com Mestre King (BA).  Irreverência (2001) é uma coreografia de frevo. Namata (2002) também é uma criação coletiva do grupo e leva para cena um caboclinho. A coreografia Patuscada (2003) é de autoria de Marília Rameh e foi premiada no X Janeiro de Grandes Espetáculos. Tambores e Maracás (2005) tem coreografias de Hugo Belfort e Marília Rameh.

O espetáculo Preto no Branco (2007) é um dos marcos da companhia, modificando o pensamento de criação e composição cênica. O espetáculo foi construído a partir de uma pesquisa prática feita pelo elenco com grupos e passistas de frevo da cidade, e contou com uma oficina de capoeira de Mestre Mago, com laboratórios guiados por Célia Meira e com aulas de dança contemporânea ministradas por Ivaldo Mendonça. Além disso, a montagem contou com a realização de uma videodança para videocenografia, feita pelo videasta Breno César. Assim, o grupo assumiu em seu processo uma prática interdisciplinar, que influenciou diretamente para que o resultado cênico fosse diferente das obras anteriores. Esse espetáculo teve incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo a Cultura (2006) e do Prêmio Klauss Vianna (2006).

Outro marco do grupo foi o projeto comemoração de 15 anos, que recebeu o prêmio Klauss Vianna de 2008. A proposta visava remontar Mutamb, Patuscada e Tambores e Maracás e realizar uma temporada desses espetáculos junto com Preto no Branco. Além disso, foi produzido um documentário sobre a história do Artefolia. Segunda Marília, em entrevista ao RecorDança, a realização desse projeto foi importante para o amadurecimento da companhia. “Revisitar isso tudo fez com que o próprio elenco entendesse qual a história e porque o Artefolia chegou a querer fazer o que faz” (RAMEH, 2013).

Ao longo de 20 anos, o grupo já ensaiou em diversos espaços, dentre escolas de dança, casa de parentes e até a própria residência da diretora. Em 2004, em uma parceria com Mônica Lira, o Artefolia fica sediado no Espaço Experimental, dando estabilidade ao trabalho diário de grupo. Em 2011, esse espaço recebe o nome de Espaço em Comum, e passa a ser gerido por quatro grupos da cidade: Grupo Experimental, Cia Artefolia, Quebra-Baque, e Circo da Trindade, até o ano de 2012. Neste ano, Marília Rameh assume o cargo de Assessora de Dança da Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, e precisa diminuir a intensidade de trabalho dentro do Artefolia. Em 2014, a diretora  vai residir no Rio de Janeiro, mas continua como diretora da Cia. Artefolia.