Balé de Arte Negra Majê Molê (1997)
Olinda , PE – Brasil
O Balé de Arte Negra Majê Molê nasce despretensiosamente em 1997. A ideia surge a partir de Gilson Gomes, ex-bailarino do Balé de Arte Negra de Pernambuco, juntamente com sua esposa Glória Gomes, professora da Rede Pública Municipal de Olinda, ao criar e apresentar uma coreografia para comemorar o Dia das Crianças no Bairro de Água Fria. O nome Majesi Mimolê de origem africana, em Iorubá significa “crianças que brilham”. O Balé retrata as danças e rituais afro-brasileiros, sendo um dos mais conhecidos grupos de dança de cultura negra de Pernambuco. A discussão sobre o fazer artístico, estético e a criação para a cena da dança afro, é o que leva Majê Molê Balé a ser estudado pela pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular, através da qual este texto foi produzido.
O Majê Molê possui influência artística e pedagógica de Zumbi Bahia, mestre, diretor e coreógrafo do Balé de Arte Negra de Pernambuco (1985-1992), o que motivou Gilson Gomes para criação de um trabalho próprio. O trabalho de criação com danças afro*** junto a crianças e adolescentes dos 8 aos 19 anos do sexo feminino é a proposta do Balé Majê Molê, que sofreu influência de outras danças, como balé clássico, frevo e danças populares ao longo de sua trajetória. O grupo é reconhecido também por valorizar a beleza estética da mulher negra, pelo trabalho de cidadania e pelo impacto visual que promove com figurinos da estética africana. Suas coreografias são acompanhadas pelo ritmo ao vivo dos tambores, e nas apresentações as músicas são cantadas em iorubá e em português, sempre fazendo menção à natureza, as lutas, aos orixás, rituais de louvor, trabalho e festas. Algumas coreografias misturam práticas e técnicas de dança, outras são criadas para promover encontros artísticos como o caso de Naná Vasconcelos e o Grupo Afroreggae (RJ).
O Balé Majê Molê oferece oficinas semanalmente no “nascedouro de Peixinhos”, aberta para a comunidade local. O Grupo possui perspectiva de atuação pedagógica e social. Ensaia seu repertório aos sábados, com a presença de amigos e familiares. Além do trabalho artístico, social e pedagógico, promove a interação dos integrantes com a comunidade, através de festas e apresentações locais.
Apesar de ser um grupo com vínculo social, teve uma grande atuação na difusão das danças afro-brasileiras se apresentando em outros estados e países (Venezuela e África). Atualmente constrói seu repertório coletivamente com contribuições de Gilson Gomes, Glória Gomes e Angélica Lins.
A atuação do grupo possui uma perspectiva profissional, com ênfase no trabalho social, e de formação. A terceira geração, chamada assim por Gilson e Glória, teve importância em difundir o conhecimento da dança afro e de desmistificar o contexto religioso do grupo, trazendo irmãos e novos integrantes. O Grupo impõe duas “combinações” para que as participantes continuem atuantes, a importância de não engravidarem e de permanecerem na escola durante todo o ano letivo. Se o combinado for desfeito, a menina terá que se retirar do grupo, assim Gilson e Glória trabalham também a importância das escolhas de cada uma. O grupo permaneceu feminino após algumas tentativas de inserção de meninos sem sucesso, permanecendo um integrante até os dias atuais.
A sede do grupo permanece no nascedouro de Peixinhos, antigo Matadouro da cidade. O Matadouro de Peixinhos, como era chamado, foi inaugurado em 1919 e foi desativado em 1970 alegando descumprimento das normas para o seu funcionamento, que eram exigidas pelo Governo Federal em todo o território nacional. Em 1980 o espaço é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal do Recife, tornando-se sítio histórico. Em 1990 vários grupos culturais da comunidade iniciam o resgate cultural e patrimonial do espaço e em 2006 é inaugurado o Centro Cultural Desportivo Nascedouro de Peixinhos, que integra as ações do Programa de Infra-Estrutura para Áreas de Baixa Renda da Região Metropolitana do Recife, um convênio entre o governo do Estado e as prefeituras do Recife e de Olinda.
Com uma forte atuação social e política na comunidade de Peixinhos, o Balé de Arte Negra Majê Molê é referência de dança afro- brasileira em Pernambuco e no Brasil.
Fontes
GOMES, Gilson: depoimento [2013]. Entrevistadores: D. Santos e U. Mahin. Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
LINS, Angélica: depoimento [2013]. Entrevistadores: D. Santos e U. Mahin. Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
SILVA, Gomes: depoimento [2013]. Entrevistadores: D. Santos e U. Mahin Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
Observações gerais: Esse texto foi escrito por Daniela Santos, Liana Gesteira Costa, Valéria Vicente.
A pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular foi desenvolvida pelo Acervo RecorDança no ano de 2013 com o objetivo de contribuir para o entendimento das diferentes abordagens de dança que, em Recife, articulam espetáculos com base no vocabulário de tradições populares brasileiras.
Para compreender as especificidades dessa produção e refletir sobre as semelhanças e diferenças desses grupos e do que se convencionou chamar de grupos parafolclóricos, foram escolhidos 10 artistas para apresentar suas trajetórias e dos grupos que fazem ou fizeram parte.
Mais informações sobre o contexto e conceito de dança afro em Pernambuco ver o artigo Rastreando Percursos da Dança Popular
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