BACNARÉ - Balé de Cultura Negra do Recife (1985)
Recife – PE – Brasil
O Balé de Cultura Negra do Recife – Bacnaré, inicia suas atividades em novembro de 1985, com a direção artística de Ubiracy Ferreira, “Mestre Ubiracy” ou Bira, e com a colaboração de Antônia Batista Ferreira (companheira de Ubiracy).
O grupo é herdeiro direto do Balé Primitivo de Arte Negra, fundado por Ubiracy Ferreira e Zumbi Bahia, que atuou de 1981 a 1984 e pode ser considerado o primeiro grupo de dança afro de Recife. Após o término deste grupo Ubiracy Ferreira inicia o BACNARÉ, ao lado de Antônia Ferreira e de alguns integrantes do Balé Primitivo, como Rosendo Francisco, Moacyr Pedro da Silva, Edvaldo Francisco, Sérgio Pedro, “Canjica, Pichilinga, Sílvio Adamastor, José Amálio e Israel Evangelista.
O Bacnaré é, portanto, o mais antigo grupo de dança afro em atividade no Recife. Sua produção artística está diretamente ligada ao Balé Primitivo de Arte Negra, mas também a trajetória de Mestre Ubiracy Ferreira e sua esposa, a professora e folclorista, Antônia Ferreira, o que levou a equipe do Acervo Recordança a identificar o grupo como importante representante na composição da pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular**, através da qual este texto foi produzido.
O grupo se estruturou em torno da família de mestre Ubiracy, ocupando parte de sua residência, e do Bairro de Água Fria. Manteve-se desenvolvendo espetáculos baseados na proposta do Balé Primitivo de Arte Negra, mas também incorporou danças de origem africana, aprendidas em viagens a encontros de grupos folclóricos, em diferentes países, que foram no decorrer de sua trajetória. Além disso, estruturaram apresentações de danças populares regionais como coco, ciranda, maracatu, que fazem parte da história de vida de Mestre Ubiracy e das pesquisas de sua esposa. A música ao vivo é um elemento indispensável ao grupo.
A sede do Bacnaré integra o programa Ponto de Cultura, do governo federal. Nesse espaço são organizados o pastoril, a bênção que antecede o início da Bandeira de São João, que segue até a igreja católica e se transforma em Acorda Povo e o Maracatu Nação Sol Nascente, fundado em 1905 por Biica, sua tataravó e que passou de 1937 a 1987 sem funcionar.
O BACNARÉ trabalha com crianças, adolescentes e adultos, oferecendo aulas de dança afro, dança popular, percussão, confecção de instrumentos, artesanato.
A banda BACNARÉ foi fundada em 2000 com o objetivo de divulgar a musica afro brasileira, popular e folclórica brasileira. Através de uma pesquisa na “musica raiz”, seus componentes acreditam trabalhar para que essas músicas não se percam no esquecimento, adaptando-as aos ritmos populares. O repertorio é composto por Coco, Ciranda, Samba de Roda, Afoxes, Maculelê, Maracatus, Carimbo, Coco de Roda, Jongo
O BACNARÉ desde 2012 atua sob a direção de Antônia Batista Ferreira e Tiago Ferreira, devido a problemas de saúde de Mestre Ubiracy. Antônia traz a experiência de pesquisa das danças de origem Africana e danças populares do Brasil, especialmente a das regiões Norte e Nordeste.
Atuou como professora do município, pesquisadora do folclore brasileiro e como dançarina no Balé primitivo de Arte Negra. Tornou-se diretora e figurinista no Bacnaré, colaborando na pesquisa dos tecidos, materiais cênicos e na pesquisa.
Tiago Ferreira atua no grupo desde os quatro anos de idade. Tornou-se percussionista, coreógrafo e professor, observando e participando ativamente do grupo. Possui formação em educação física e é especialista em Dança no Contexto Educacional. Desde 2000 passou a coreografar o grupo.
Tiago e Antônia, juntos como coreógrafos, declaram trazer para o grupo a possibilidade de renovação da tradição, explorando ritmicamente os sons, movimentos e elementos cênicos da cultura africana e afro brasileira, procurando manter o conhecimento que foi construído por Ubiracy.
Sua família e integrantes investem na formação continuada do grupo. O objetivo do grupo após o falecimento de Ubiracy Ferreira é de dar continuidade ao trabalho, manter o que foi construído. E iniciar com uma nova pesquisa para a montagem de um espetáculo com repertório de matriz africana. Além disso, para o ano de 2014 o grupo fará eleição de nova diretoria para composição de um novo Estatuto.
O primeiro espetáculo do Bacnaré chama-se Memórias (1986), e teve primeira apresentação no Teatro de Santa Isabel. O espetáculo que mostra em seu gestual formas de comunicação através da dança e da música, remete a vida dos negros escravos. É composto pelas seguintes coreografias: Navio Negreiro, Nascimento, Maculelê , Canavial, Lavagem, Caçada, Plantio, Colheita, Pesca, Maracatu de Senzala, Oxalá- Benção a Vida, Coroação, Dança Guerreira, Capoeira, Xirê Omulu, Oferendas, Orixás, Ritual das Mascaras, Watuzi.
Outros espetáculos produzidos pelo grupo: Povo e Raiz (1990), Banho de Oxum (1990), Plural do Brasil (1994), Sangue Africano (2007); e Sons da África (2009). Este último apresenta a diversidade das tribos africanas, com coreografias onde as cores, a guerra e os ritos de passagens são evidenciados. É composto pelas seguintes coreografias: Indiamu Zulu, Solo de Percussão, O Som da Savana, Xirê Alegre, O Som do Trovão, Canto Africano, Alalelinenuê, Cailala , Novo Shosholosa, Canto Mirian Makeba, Som da Terra, Encontro das Nações.
Observações gerais:Esse texto foi escrito por Daniela Santos, Liana Gesteira Costa, Valéria Vicente.
A pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular foi desenvolvida pelo Acervo Recordança no ano de 2013 com o objetivo de contribuir para o entendimento das diferentes abordagens de dança que, em Recife, articulam espetáculos com base no vocabulário de tradições populares brasileiras.
Para compreender as especificidades dessa produção e refletir sobre as semelhanças e diferenças desses grupos e do que se convencionou chamar de grupos parafolclóricos, foram escolhidos 10 artistas para apresentar suas trajetórias e dos grupos que fazem ou fizeram parte.
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