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Balé Deveras (1985)
Olinda , PE – Brasil
O trabalho de recriação das danças tradicionais regionais é uma das propostas do Balé Deveras, que sofreu influência de outras práticas de dança ao longo de sua trajetória. Além disso, o grupo é reconhecido por promover mudanças no cenário das quadrilhas juninas, levando uma nova proposição estética para as apresentações das quadrilhas, o que posteriormente originou em um novo gênero, denominado “Quadrilha Recriada”. Essa discussão sobre recriação juntamente com a indicação de que é seria um dos primeiros grupos de danças populares do estado (Oliveira,1993) é o que leva o Balé Deveras a ser estudado pela pesquisa o Mapeando o Entrelugar da Dança Popular**, através da qual este texto foi produzido.
O Balé Deveras teve sua origem no Grupo Folclórico Cleonice Veras da Escola Assis Chateubriand, da comunidade de Brasília Teimosa. Ainda enquanto grupo da escola, tinha uma perspectiva de atuação pedagógica. O grupo tem sua fundação oficial datada em 1980, quando fora registrado em cartório, entretanto, o trabalho de pesquisa do repertório de danças do grupo teve início a partir de 1970, com a ida de Cleonice Veras às regiões das Usinas de Barão de Escada e de Vitória, juntamente com sua assistente, Maria da Graça Costa. A duas aprendiam os passos, gravavam as músicas, e levavam para os alunos da escola aprenderem, além de oficinas ministradas por mestres populares contratados, como Sr. Eudes, rei do Maracatu Porto Rico do Oriente, Ubiracy Ferreira e Mestre Nascimento do Passo. (ROCHA, 1991) Apesar de ser um grupo de escola, teve uma grande atuação na difusão das danças populares pernambucanas se apresentando em outros estados e países. Segundo Mika Silva, o Grupo Folclórico Cleonice Veras ocupava parte do mercado do Balé Popular de Dança do Recife, pois se apresentava sem cachê, em troca apenas do pagamento dos custos de viagem (SILVA, 2013).
Com a aposentadoria da diretora, que deixa de ser professora da escola, os bailarinos assumem a liderança da companhia e imprimem uma atuação mais profissional. Assim, em 1985, nasce o Balé Deveras. A mudança ocorreu no nome do grupo, e também a sua forma de atuação. Em 1985, foi criada uma diretoria para gerir o grupo coletivamente, que é formada por nove pessoas. Nessa nova perspectiva o grupo realiza um rodizio de aulas, em que a cada sábado a condução era realizada por uma pessoa da diretoria. E no final de cada sábado, o grupo se reunia e avaliava o andamento do trabalho e definia as atividades do próximo encontro.
Esse foi um momento de transição do grupo, que já apontava para uma mudança na perspectiva de organização e atuação, com proposições mais coletivas e colaborativas, mas ainda havia divergências acerca da questão profissional. Segundo depoimentos gravados por Goretti Rocha, alguns membros tinham o entendimento diferente dos caminhos do grupo, uns queriam a profissionalização e outros queriam manter a estrutura de “amor à arte” criada por Cleonice Veras. (ROCHA, 1991)
Mais adiante o grupo assume a perspectiva profissional, com a liderança de Mika Silva. É quando começa a ter uma rotina de trabalho de segunda à sexta, e a receber cachê pelos espetáculos apresentados. O Balé Deveras tem Mika como diretor, que assume a administração e propõe as temáticas das criações do grupo e tem Willian Sabatello como coreógrafo, mas mantém prática de criação e produção coletiva. No final dos ensaios, desenvolvem a prática de avaliação do trabalho, compartilhada entre todos os integrantes.
Entre 1985 e 2013 o grupo produz os seguintes espetáculos: Pernambuco e suas tradições (1986), Raizes Nordestinas (1989), Bandeiras de São João (1991), Folguedo Guerreiro (1996), Baile do Menino Deus (2002) e o Bandeira de todos os santos (2003), Deveras, um Balé Popular (2005), Daqui não saio, daqui ninguém me tira (2006), Espetáculo Festa (2009).
O espetáculo “Bandeiras de São João”, criado em 1992, tem um papel importante no grupo. A montagem, que é baseada na obra de Ronaldo de Brito, com temática junina, inaugurou a participação do Deveras nos concursos de Quadrilha e trouxe outro pensamento estético para essa área. A proposta trazida pelo Deveras trouxe mudanças no tema, na trilha, no figurino, na coreografia e na encenação do casamento, dando origem às Quadrilhas Recriadas. A base conceitual para essas quadrilhas é a valorização dos conteúdos tradicionais, com músicas nordestinas, figurinos menos luxuosos, no entanto com coreografias e encenação mais elaborados. (MENEZES NETO, 2009: 49-57). Em 1996, a Quadrilha Deveras ganhou primeiro lugar no concurso, mas desde os anos 2000 deixou de concorrer, por conta dos altos custos de investimento para criação nessa área, segundo conta Mika Silva em entrevista (SILVA, 2013).
Outro espetáculo marcante para a trajetória do grupo foi “Daqui não saio daqui ninguém me tira”(2006). A montagem tem um forte cunho político, pois conta a história de luta da ocupação da comunidade de Brasília Teimosa. Segundo documentos do grupo, o espetáculo utiliza o teatro como meio condutor da história. A gênese do espetáculo se deu a partir da participação do Deveras em um projeto do XI Festival de Dança do Recife (2005) que cedeu uma bolsa para grupos de dança populares investirem em uma criação. Assim, o Deveras teve assessoria artística de Duda Maia, bailarina pernambucana que mora no Rio de Janeiro e trabalha as danças tradicionais como conteúdo para criação cênica. Segunda Mika, essa montagem foi um marco para o grupo inaugurando uma criação mais coletiva e que teve participação de Helder Vasconcelos na trilha sonora. O espetáculo foi contemplado também pelo prêmio Klauss Vianna em 2006, com um fomento de R$ 30 mil para montagem o espetáculo.
Com uma forte atuação social e política na comunidade de Brasília Teimosa, o Balé Deveras é referência e inspiração para criação de outros grupos de dança popular como os grupos infantis o Maracatu Nação Erê (1994), o Maracatu Nação filhos de Olorum (2005).
Fontes
GALDINO, Christianne Silva. Dança e Desenvolvimento Local: a experiência do Balé Deveras em Brasília Teimosa, Recife- Pernambuco . Recife, 2009. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local – POSMEX 2009 – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
MENEZES NETO, Hugo. O Balancê no Arraial da Capital: quadrilha e tradição no São João do Recife. Recife: Ed. Autor. 2009.
SILVA, Ladimir Ferreira da: depoimento [2013]. Entrevistadores: L.G. Costa e U. Mahin. Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
OLIVEIRA, Maria Goretti Rocha. Danças populares como espetáculo público no Recife, de 1979 a 1988. Recife: O Autor, 1993.
Observações gerais: Esse texto foi escrito por Daniela Santos, Liana Gesteira Costa, Valéria Vicente.
A pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular foi desenvolvida pelo Acervo RecorDança no ano de 2013 com o objetivo de contribuir para o entendimento das diferentes abordagens de dança que, em Recife, articulam espetáculos com base no vocabulário de tradições populares brasileiras.
Para compreender as especificidades dessa produção e refletir sobre as semelhanças e diferenças desses grupos e do que se convencionou chamar de grupos parafolclóricos, foram escolhidos 10 artistas para apresentar suas trajetórias e dos grupos que fazem ou fizeram parte.
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