Balé Primitivo de Arte Negra (1981)
Recife – PE – Brasil
O Balé Primitivo de Arte Negra foi fundado em 1981 por Adalberto Conceição da Silva, “Mestre” Zumbi Bahia (fundador do Afoxé Ilé de África em 1982) e Mestre Ubiracy Ferreira (Mestre Bira), que dividiam a direção e as coreografias do grupo.
A inspiração para criar em Recife, o Balé Primitivo de Arte Negra, surge por múltiplos fatores: desejo de criação com o imaginário afro brasileiro, pesquisa e experimentação no entrecruzamento da dança com outras linguagens. O Balé Primitivo de Arte Negra é identificado por todas as fontes orais e documentais consultadas pelo Acervo RecorDança como primeiro grupo de Dança Afro do Recife, levando o projeto Mapeando o Entrelugar da Dança Popular do Acervo RecorDança, a identificar o grupo como importante representante na composição da pesquisa, através da qual este texto foi produzido.
Na época do surgimento do grupo, na década de 1980, havia a modalidade dança afro brasileira, oferecida em academias de ginástica com as denominações Afro jazz, Afro contemporâneo, Afro aeróbico. De acordo com Zumbi Bahia, em contraposição ao esse “modismo” o grupo se denominou Primitivo, Balé Primitivo de Arte negra. A crítica era que a dança afro não estava sendo praticada com instrumentos de música ao vivo, com os atabaques, era feita com CDs, e os movimentos de dança moderna eram todos incluídos e chamados de afro. Além desse fato, a origem do nome pertence ao entendimento da palavra “primitivo”, como primeiro grupo de dança Afro em Recife. Posteriormente, o nome afro primitivo passou a ser utilizado para identificar o estilo de dança afro desenvolvida no Recife, e difundida em diversas cidades do Brasil.
Mestre Zumbi Bahia, contribuiu para o grupo com a capoeira, a percussão e as danças que aprendera na Bahia. Contribuiu para o processo de ensino e aprendizagem apresentando diferentes toques, e possibilidades de construção corporal para a dança afro usando como estratégia e preparação corporal a capoeira.
Mestre Ubiracy Ferreira (Bira), dançarino, professor de dança na rede estadual de ensino, e brincador e pesquisador da cultura popular pernambucana, trouxe para o grupo a contribuição da cultura e da religiosidade afro-brasileiras.
Sua colaboração para o grupo remetia a sua experiência nas danças populares e nas tradições brasileiras vividas no interior junto a sua família. Além de contribuições artísticas e políticas significativas para o contexto, colaborou para o processo de formação do bailarino afro descendente no Estado. Conta-se que foi o primeiro dançarino negro a pisar no palco do Teatro Santa Isabel, em 1954.
Para concepção coreográfica, o grupo identificava princípios e domínios do movimento e usava o plano de existência dos orixás: o domínio da mata, do fogo,da água. Retirando a figura paramentada dos orixás, surgiu o espetáculo “Ânsia de liberdade”, que apresentou-se no teatro do Parque em novembro de 1981. Baseado na problemática do negro brasileiro, recriava as opressões e os maus tratos sofridos pelos escravos e também o cotidiano do trabalho.
Ainda em 1981, O espetáculo “Corte Real de Zumbi”, narra através de danças e cantos afro brasileiros, e os poemas de Solano Trindade, a epopeia do negro Zumbi, o Deus da Guerra. Esse espetáculo foi premiado em Ipacaray, Paraguai em novembro de 1982, apresentou-se nos dias 12 e 13 de novembro no teatro Santa Isabel. Em pouco tempo realiza algumas apresentações nos teatros do Parque e Santa Isabel. E viagens no Brasil e em outros Países. Em 1983 estreou “Banho da Oxum”, baseado na lenda sobre o orixá oxum, se banhando na cachoeira.
O grupo tinha 26 integrantes, entre bailarinos, percussionistas e diretores. Entre eles Edilson Fernandes de Souza (Xerife), que em 2013 é pró-reitor de extensão na UFPE, Maurinho (Bereguedê), Águia, Almir, Caíque, e seu irmão Roberto (Kibon) vindos da capoeira. E, logo no início, Antonia Batista Ferreira (companheira de Ubiracy).
Além dos espetáculos, a direção do grupo promoveu oficinas de dança afro- brasileira, baseados nas culturas do Zaire, Angola e Nigéria. Com o objetivo de criar condições para desenvolver um processo de conscientização da movimentação afro-brasileira, eram realizados na Rua 13 de maio 155, no bairro de Santo Antônio.
Fontes
SILVA, Conceição Adalberto da (Zumbi Bahia): depoimento [2013]. Entrevistadores: D. Santos. Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
Observações gerais: Esse texto foi escrito por Daniela Santos, Liana Gesteira Costa, Valéria Vicente.
A pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular foi desenvolvida pelo Acervo RecorDança no ano de 2013 com o objetivo de contribuir para o entendimento das diferentes abordagens de dança que, em Recife, articulam espetáculos com base no vocabulário de tradições populares brasileiras.
Para compreender as especificidades dessa produção e refletir sobre as semelhanças e diferenças desses grupos e do que se convencionou chamar de grupos parafolclóricos, foram escolhidos 10 artistas para apresentar suas trajetórias e dos grupos que fazem ou fizeram parte.
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