Balé de Arte Negra de Pernambuco (1985-1992)
Recife – PE – Brasil
O Balé de Arte Negra de Pernambuco inicia suas atividades em 1985, com a direção artística de Adalberto Conceição da Silva, “Mestre” Zumbi Bahia e supervisão de Thelma Chase da Silva (militante do movimento negro e articuladora de diversas manifestações culturais). Por sua atuação no desenvolvimento da dança afro de Pernambuco, que ficou nacionalmente conhecida como Afro Primitivo, o Balé de Arte Negra foi objeto da pesquisa do Acervo RecorDança Mapeando o Entrelugar da Dança da Dança Popular, através da qual este texto foi produzido.
Mestre Zumbi Bahia (também fundador do afoxé Ilê de África, em Olinda), chega em Recife em 1979, a convite de Antônio Carlos Nóbrega para ensinar capoeira. Nesta cidade, reúne capoeiristas do Estado e de outras localidades com atividades em diferentes espaços. De 1981 a 1983, atua junto com Ubiracy Ferreira no Balé Primitivo de Arte Negra, que pode ser considerado o primeiro grupo de dança afro de Recife. Após o término do Balé Primitivo de Arte Negra (1983), Zumbi Bahia incentivado por Thelma Chase e alguns alunos de capoeira, inicia uma nova trajetória incorporando novos integrantes como Mika Silva e Gilson Gomes, entre outros, e antigos integrantes como Edilson Fernandes de Souza, dando origem ao Balé de Arte Negra de Pernambuco.
As atividades do grupo eram desenvolvidas no Centro Social Urbano Prefeito Novaes Filho, em Campina do Barreto. O propósito inicial do grupo era, segundo Zumbi Bahia, a construção de um trabalho coreográfico com ênfase no domínio dos orixás, entendidos como guardiões da natureza. O primeiro espetáculo “Ogum Oni Irê”, abordava a lenda africana com o tema de Ogum que teria retornado a cidade de Irê e não foi reconhecido pela comunidade. O trabalho de construção coreográfica apresentava elementos desenvolvidos a partir da recriação de movimentos da religiosidade e do cotidiano da cultura afro brasileira para a cena.
Pode-se afirmar que Zumbi aprofundou a estética da dança que iniciou no Balé Primitivo, abordando os orixás como domínio dos elementos da natureza, no Balé de Arte Negra. O Balé de Arte Negra de Pernambuco também obteve destaque pelo aspecto visual agregado ao espetáculo. Seus integrantes atuaram com cabeças raspadas e pinturas por todo o corpo. Os movimentos corporais traziam a representação do guerreiro dominando a espada quando estava em pleno combate, em plena guerra no espetáculo “Ogum Oni Irê”. A essência estava no movimento das danças dos orixás. A partir desse início surgiram estudos e criações, com base também no que Zumbi tinha presenciado nos terreiros e grupos da Bahia.
Já no trabalho Seis Luas em Seis Tempos utilizava de poesia e do repertório de movimentos do elenco para construir um discurso político sobre discriminação racial e situação do negro no contexto urbano.
O grupo tem uma forte relação com o movimento de resistência negra, e ao longo de sua trajetória se apresenta frequentemente nas programações político-culturais do Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo, em 13 de maio e do Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro.
A importância artística e pedagógica do grupo é reconhecida por artistas que integravam o grupo, como o caso de Gilson Gomes, que posteriormente funda o Balé Afro Majê Molê, e reverencia as práticas vivenciadas no grupo e a atuação de Zumbi Bahia e Thelma Chase para além dos palcos.
Fontes
SILVA, Conceição Adalberto da (Zumbi Bahia). Comunicação na Mesa de debate Dança Afro: criação e autenticidade no jogo das identidades, no Seminário Recordança: “Mapeando o entrelugar da dança Popular”, realizada em 27 de outubro de 2013
SILVA, Conceição Adalberto da (Zumbi Bahia): depoimento [2013]. Entrevistadores: D. Santos. Recife: 2013. Entrevista concedida ao Projeto RecorDança.
Seis Luas em Seis Tempos. Acervo Recordança : Registro audiovisual
SOUZA, Edilson Fernandes. Entre o fogo e o vento: as práticas de batuque e o controle das emoções. Tese de doutorado da faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, 1998.
Observações gerais: Esse texto foi escrito por Daniela Santos, Liana Gesteira Costa, Valéria Vicente.
A pesquisa Mapeando o Entrelugar da Dança Popular foi desenvolvida pelo Acervo RecorDança no ano de 2013 com o objetivo de contribuir para o entendimento das diferentes abordagens de dança que, em Recife, articulam espetáculos com base no vocabulário de tradições populares brasileiras.
Para compreender as especificidades dessa produção e refletir sobre as semelhanças e diferenças desses grupos e do que se convencionou chamar de grupos parafolclóricos, foram escolhidos 10 artistas para apresentar suas trajetórias e dos grupos que fazem ou fizeram parte.
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